
No prólogo, intitulado Era uma vez, o cineasta Quentin Tarantino narra, com imagens de seu filme Era uma vez em Hollywood, um diálogo ao telefone entre o agente Marvin (Al Pacino) e o ator de Hollywood Rick (Leonardo DiCaprio). O agente tenta convencer Rick a se encontrar com Sergio Corbucci. Rick pergunta quem é Corbucci, ao que o agente responde: “O segundo maior diretor de faroeste espaguete do mundo todo.”
É o ponto de partida para o documentário sobre Sergio Corbucci, que era frequentemente confundido com seu grande amigo Sergio Leone. O tom do documentário são os longos depoimentos de Tarantino, admirador confesso, inclusive com homenagens em seus filmes, do diretor de Django (1966). Tarantino revela que cogitou, depois de filmar Bastardos Inglórios, escrever uma biografia de Corbucci intitulada O outro Sergio.
Tarantino explica o nascimento da carreira dessa geração que mudou o gênero western a partir do final dos anos 50: “Toda aquela turma de diretores do faroeste espaguete, Leone, Corbucci, Duccio Tessari, Franco Giraldi, todos eles eram amigos. Todos eram críticos que escreviam para revistas e jornais sobre filmes. E todos eles adoravam faroeste. Essa turma de caras começou a trabalhar como críticos e, aos poucos, eles viraram roteiristas. Por meio da escrita, viraram diretores de segunda unidade. E foi onde realmente aprenderam o ofício deles.”
O roteirista e diretor Ruggero Deodato também participa do documentário, comentando sobre sua participação em diversos filmes de Corbucci. Outro ponto de destaque é a participação de Franco Nero, intérprete do célebre Django.
Django & Django é um retrato fascinante desse diretor italiano tão apaixonado por cinema que resolveu renová-lo, participando de forma decisiva de uma espécie de movimento que foi visto pela crítica como paródia, como cinema menor. Visão que Tarantino, com certeza, não concorda:
“Para mim, o Leone criou a maior trilogia da história do cinema, a trilogia dos dólares. Cada filme é um épico maior do que o anterior. Cada um expressa mais os faroestes. Cada um expressa mais como artista, quem ele é e o que quer fazer. Cada um é uma recriação maior do faroeste sobre a ótica dele. O Corbucci é diferente. O Corbucci decidiu não fazer isso. Quando começou a fazer faroeste espaguete, ele não visou épicos. Ele optou pelo tipo de filme de caubói mais violento. Ele os queria dentro do gênero. Não são épicos. São filmes de caubói, filmes de vingança.”
Django & Django (EUA, 2021), de Luca Rea.