
O documentário pode ser visto como uma espécie de testamento fílmico de Agnès Varda. A narrativa começa com a montagem de um cenário em uma das praias frequentadas pela fotógrafa/cineasta na infância. Encenações na praia se fundem a trechos de seus filmes, amparados por uma sensível e sincera narração em primeira pessoa.
Parte da história do cinema francês, pouco antes e a partir da nouvelle-vague francesa, está registrado em As praias de Agnès. Os relatos e os filmes se imbricam com a vida pessoal de Varda, em momentos de emocionar, como no momento em que ela vê fotos de amigos mortos e, principalmente, ao comentar seu relacionamento com o também cineasta Jacques Demy. A rua onde ela viveu, em Paris, serve como cenário para a simulação de uma praia em plena capital francesa, com areia, sombrinhas, mesas de trabalho como se fosse uma produtora de cinema ao ar livre. Em um trecho, a cineasta tenta definir cinema: “O que é o cinema? É luz que chega de algum lado e que é retida pelas imagens mais ou menos escuras ou coloridas.” Filme a filme, memória a memória, Agnès Varda revela toda a sua paixão por essas imagens escuras ou coloridas e pela vida.
As praias de Agnès (Le plages D’Agnès, França, 2008), de Agnès Varda.