
Impossível não entregar todos os sentidos a esta bela história de amor não-concretizado. Chow (Tony Leung) e sua esposa se mudam para uma pequena pensão em Hong Kong no mesmo dia que Li-Zhen (Maggie Cheung) e seu marido. Os dois ocupam quartos vizinhos e se cruzam a todo instante na cozinha, nos corredores, nas ruas molhadas em frente à pensão. Desenvolvem uma fascinante atração mútua a partir de olhares e frases curtas, mas resistem em se entregar, mesmo após desconfiar que seus cônjuges estão tendo um caso. Detalhe: o marido de Li-Zhen e a esposa de Chow nunca aparecem, são vistos de costas, ou em ângulos sinuosos de câmara que não permite ao espectador identificá-los.
O estilo de Wong Kar Wai, que deixa a improvisação e a câmera traduzirem de forma livre a história, está arrebatador em Amor à flor da pele. Corpos transitam pelos espaços minúsculos como em uma dança sutil e elegante, a câmera lenta associada à música, à direção de arte, aos figurinos – destaque para os vestidos belos, simples e sedutores de Li-Zhen, tudo colabora para que o espectador se entregue a esses momentos sensoriais de indescritível beleza.
Amor à flor da pele (I fa yeung nin wa, China, 2000), de Wong Kar Wai. Com Maggie Cheung, Tony Leung, Chiu Wai, Ping Lam Siu.