
O filme começa com uma belíssima homenagem a Jacques Tati: câmera filma do lado de fora um garçom subindo por um prédio, o espectador acompanha a subida pelas janelas, exatamente como a clássica cena de Meu tio (1958). A outra homenagem é também saudosista, pois a narrativa acompanha quatro histórias narradas por jornalistas, de um tempo em que o romantismo, a ousadia, a liberdade de expressão ainda eram tônicas deste fascinante mundo dos contadores de histórias reais.
Arthur Howitzer Jr. investe o dinheiro do pai para fundar uma revista, A crônica Francesa, recheada de reportagens de estilo literário. As quatro histórias traduzem o jornalismo investigativo, os repórteres acompanham e investigam os fatos narrados. Um ciclista/jornalista percorre as ruas da cidade contando as histórias de seus moradores; uma crítica de arte narra a fascinante saga de um artista que está preso por assassinato e se torna um expoente da arte moderna; um jornalista capaz das maiores frases literárias da revista se envolve com o mundo do crime para retratar os perfis dos mafiosos; uma jornalista tem um caso com um jovem revolucionário quando cobre os manifestos estudantis nas ruas da cidade.
O estilo extravagante na direção de arte e, principalmente, cenografia, está presente em todas as histórias. A narração de Anjelica Huston colabora com o charme deste filme para ser visto e ouvido com os sentidos abertos à sensibilidade artística de Wes Anderson.
A crônica francesa (The French Dispatch, EUA, 2021), de Wes Anderson. Com Benicio Del Toro (Moses Rosenthaler), Adrien Brody (Julian Brody), Tilda Swinton (J.K.L. Berensen), Léa Seydoux (Simone), Frances McDormand (Lucinda Krementz), Timothée Chalamet (Zeffirelli), Lyna Khoudri (Juliette), Jeffrey Wright (Roebuck Wright), Mathieu Amalric (The commissaire), Stephen Park (Nescaffier), Bill Murray (Arthur Howitzer, Jr.)