
Meu primeiro contato com a ideia de universos paralelos aconteceu na infância, assistindo à eternizada série Jornada nas estrelas. Em marcante episódio, a tripulação comandada pelo Capitão Kirk enfrenta seus inimagináveis duplos. O espelho é o reflexo do mal, o universo paralelo à Enterprise guarda o lado negro dos personagens. Uma sucessão de golpes, traições e assassinatos faz o poder mudar de mãos na Enterprise, todos liderando pelo terror, inclusive Spock. Voltar no tempo, cair em dimensões alternativas, interferir no destino, são temáticas comuns a Jornada nas estrelas e a diversas outras séries e filmes.
Contra o tempo (Source Code , EUA, 2011), de Duncan Jones, é uma espécie de mistura destas temáticas. O capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) é enviado ao passado recentíssimo (da tarde para a manhã do mesmo dia) para descobrir a identidade de um terrorista que explodiu um trem naquela manhã em Chicago. Ele tem 8 minutos para cumprir a missão. Quando o trem explode, ele volta ao ponto de origem e é reenviado para mais 8 minutos de tentativa. Pode-se ler no filme também uma analogia à linguagem do videogame: a cada reenvio o protagonista conhece os erros e acertos das tentativas anteriores. E, claro, você vai enxergar referências a outros filmes:Feitiço do tempo, Corra lola, corra, Matrix, Efeito borboleta…
Para mim, o mais instigante de Contra o tempo é exatamente esta confusa possibilidade de universos paralelos. Imagina-se que a cada interferência do capitão, destinos dos personagens são alterados e um novo futuro é criado. Algo assim como mundos que correm lado a lado por linhas de trem que não se cruzam. Em uma história um personagem morre, na outra salta do trem antes do acidente, em uma terceira se apaixona por outro personagem e assim por diante.
O polonês Krzysztof Kieslowski trabalhou com perspectiva parecida em Acaso (Przypadek, Polônia, 1987). A corrida do personagem principal do filme na estação, tentando pular no trem, é o elo de ligação entre três possíveis destinos. Pequenos incidentes alteram o destino, simbolizando um novo começo e nova história a cada interferência. Mas as três histórias estão à nossa frente, como três caminhos diferentes. Pensando bem, a nossa imaginação dentro do cinema é recheada de universos paralelos.