
Evito filmes sobre blues e jazz. Por não gostar destes gêneros musicais, claro. A imagem de músicos no palco de clubes noturnos em solos amargurados, contemplados pela plateia silenciosa e enfumaçada de cigarros, me parece clichê desse universo musical. Tudo isto está em Paris vive à noite (Paris blues, EUA, 1961), de Martin Ritt.
Ram Bowen (Paul Newman) é músico em busca de afirmação, quer se tornar compositor. Passa as noites tocando no seu clube, acompanhado por uma banda de desajustados, entre eles o violinista viciado em cocaína e Eddie Cook (Sidney Poitier), que foge do racismo nos EUA, elegendo Paris como a cidade perfeita para um músico negro.
Paris, cidade feita para abandonar preconceitos. Aos poucos, me deixo levar pelo fascínio do filme – que belo título em português, coisa rara, tradução sensível. À noite, personagens vivem em torno do jazz, em torno da cidade eternamente marcada pela beleza física e etérea. A fotografia em preto e branco das ruas simboliza a Paris que vive sob a névoa dos românticos, dos desiludidos, de todos que procuram. Na estação, o trem chega e a fumaça da chaminé preenche a tela, deixando na plataforma duas jovens também à procura. Vão se cruzar com os músicos e todos deixam evidenciar a melancolia. E para completar, o filme termina com despedida na estação de trem. É o fascínio deste cinema clássico americano que nunca deveria ter se esquecido de seus belos clichês.