
O início do filme é uma bela homenagem ao trem de ferro, meio de transporte que revolucionou a história da humanidade. Jacques Lantier e Pecqueux, dois maquinistas, comandam o trem, trocando gestos, assobios e olhares que só eles entendem, enquanto manejam os equipamentos. A poesia visual se completa com imagens das rodas, dos trilhos, pontos de vistas subjetivos da máquina que segue imponente sua jornada.
A besta humana, baseado em romance de Emile Zola, é a história do maquinista Jacques Lantier, que sofre com impulsos psicológicos imprevisíveis e violentos. Lantier afirma, em determinado momento, que carrega a herança, espécie de praga, de anos e anos de consumo abusivo de álcool por seus familiares diretos.
Um caso de paixão coloca em prova essa tendência assassina do protagonista. A jovem e bela Severine é casada com Roubaud, chefe da estação. Roubaud descobre que sua mulher foi amante de Grandmorin, um velho e rico industrial da cidade de Le Havre (que tem um histórico de estupro de menores). A bordo de um trem para Paris, o chefe da estação, com ajuda de Severine, mata o industrial. Lantier, também a bordo desse trem, se torna a única testemunha do crime. No entanto, se apaixona por Severine e os dois vivem um tórrido romance.
O diretor Jean-Renoir, considerado por muitos precursor do neorrealismo italiano, trabalha em A besta humana com elementos que antecipam também o film noir americano: as cenas noturnas na estação de trem, com forte suspense psicológico, os protagonistas que transitam pelas noites em constantes conflitos e, principalmente, a femme fatale – a sedutora Severine que impulsiona os instintos cruéis de seus amantes.
A besta humana (La bête humaine, França, 1938), de Jean Renoir. Com Jean Gabin (Jacques Lantier), Julien Carette (Pecqueux), Simone Simon (Séverine), Fernand Ledoux (Roubaud), Jacques Berlioz (Grandmorin).