
A exemplo de Capitão Fantástico (2016), Corações famintos apresenta discussão sobre o direito dos pais criarem seus filhos de forma alternativa. No entanto, no filme do italiano Saverio Costanzo, a reflexão ganhar ar de suspense.
Mina e Jude se conhecem no banheiro de um bar, quando ficam trancados juntos. Mina entra inadvertidamente no banheiro masculino logo após uma crise de diarreia de Jude. Ela quase não suporta o cheiro fétido, metáfora do que está por vir: a podridão que exala dos humanos após se empanturrarem com todos os tipos de alimentos.
Os dois se apaixonam, casam e têm um filho. A partir daí, o relacionamento entra em uma espiral depressiva, movida pela decisão de Mina em criar o filho com alimentos naturais, sem carne, e sem contato com o mundo exterior. A mãe está obcecada por uma visão sobre o filho índigo e por um enigmático sonho de um caçador abatendo um cervo (Corações famintos é adaptação do romance Il bambino indaco, de Marco Franzoso).
Os atores Adam Driver e Alba Rohrwacher ganharam os prêmios de melhor atuação no Festival de Veneza. Eles dominam o filme em um embate psicológico, por vezes físico. Seus personagens se demonstram despreparados para encarar o mundo a partir do momento em que uma vida completamente dependente se institui entre eles. Com final extremo, Corações famintos faz refletir sobre nossa posição diante dos filhos.
Corações famintos (Hungry hearts, Itália, 2014), de Saverio Costanzo. Com Adam Driver (Jude), Alba Rohrwacher (Mina), Roberta Maxwell (Anne).