
É um dos filmes mais pesados, difíceis de assistir de Bergman, mas, ao fim, dialoga com nossas angústias mais profundas. Jenny Isaksson (Liv Ullmann) é psiquiatra, seu caso atual é uma jovem com tendências suicidas que a agride verbalmente. Jenny vai passar um tempo com os avós, na casa de sua infância, e tem visões noturnas com uma anciã, possivelmente sua falecida mãe. A rotina de Jenny é marcada por encontros com personagens que, assim como a médica, sofrem de perturbações.
Bergman filma tudo com uma câmera distante, quase documental. Na forte sequência em que Jenny é estuprada em um apartamento, o diretor posiciona a câmera fora do quarto, filmando pela porta aberta, deixando em quadro um homem em pé que assiste a tudo impossível e as pernas da médica que se debatem durante o ato.
A complexa intensidade da mente humana, muitas vezes reprimida, permeia toda a narrativa. Em pauta temas como a inutilidade do tratamento psiquiátrico, tentativas de se libertar através de ousadas incursões físicas, a mente que não acompanha a decrepitude do corpo, busca desesperada de salvação que leva à tentativas do ato extremo. Resta ao espectador assistir e se entregar às suas próprias e incompreensíveis angústias.
Face a Face (Face to face, Suécia, 1975), de Ingmar Bergman. Com Liv Ullmann, Erland Josephson, Aino Taube, Gunnar Bjornstrand.