
A noite dos desesperados (EUA, 1969), de Sidney Pollack, começa com memorável sequência que remete ao título original do filme (They shoot horses, don’t they?): Robert, ainda criança, vê seu pai sacrificando um cavalo ferido. Esta imagem volta a atormentá-lo como sonho durante a narrativa, metáfora que se concretiza quando o jovem Robert, desempregado como tantos outros americanos durante a grande depressão dos anos 20/30, resolve entrar em uma maratona de dança.
Os maratonistas participam de humilhações físicas e psicológicas, dançando em um salão durante quase dois meses, sob o comando cruel de Rock (Gil Young), o mestre de cerimônias que em determinado momento diz ao par de protagonistas (Jane Fonda e Michael Sarrazin) algo como: “Vocês pensam que estão em uma maratona? Estão participando de um espetáculo, e devem entreter o público até o fim.” Premonitório, todo participante dos reality shows que infestam a televisão tem obrigação de assistir à A noite dos desesperados antes de entrar no programa.
São antológicas as sequências das corridas dos maratonistas até a exaustão, remetendo à metáfora do sacrifício dos cavalos, afirmando a condição de miserabilidade humana dos participantes. O final é dos mais impactantes deste momento do cinema americano, a primeira fase da chamada Nova Hollywood, quando roteiristas e diretores tocaram fundo nas feridas da sociedade americana, sem pudor, sem se preocupar em simplesmente entreter o público na sala de cinema.
A noite dos desesperados (They shoot horses, don’t they?, EUA, 1969), de Sidney Pollack. Com Jane Fonda (Gloria), Michael Sarrazin (Robert), Susannah York (Alice), Gig Young (Rock).