
O neo-realismo italiano encontrou em Abbas Kiarostami (1940/2016) sua grande referência no cinema contemporâneo. Grande parte da obra do diretor iraniano retrata pessoas comuns em situações do cotidiano, trabalhando quase exclusivamente com atores amadores filmados em locações, nas próprias habitações e imediações dos personagens.
A linguagem cinematográfica dos filmes sempre foi simples, didática, evitando maneirismos, realizada com poucos equipamentos e recursos de edição clássicos.
Através da oliveiras é a expressão máxima destes princípios. Equipe de cinema está em pequena cidade do norte do Irã. O filme retrata o casamento de Hossein e Tahere, realizado após o grande terremoto. As filmagens se concentram em frente ao lar do casal, o diretor repete à exaustão a mesma cena buscando que os atores pelo menos acertem as falas. Interessante reflexão sobre o processo de trabalho de Kiarostami e, por extensão, de todos os realizadores que enveredam pela estética neo-realista desde o surgimento do movimento revolucionário na Itália na década de 40 do século passado.
Outra fascinante reflexão é sobre os meandros entre arte e realidade. No intervalo das filmagens, Hossein tenta convencer Tahere a se casar com ele, mas recebe em resposta o eterno silêncio da pretendente. O belo e majestoso plano sequência no final do filme é dos grandes momentos do cinema.
Através das oliveiras (Zire darakhatan zeyton, Irã, 1994), de Abbas Kiarostami. Com Mohamad Ali Keshavarz, Farhad Kheradmand, Zarifeh Shiva, Hossein Rezai, Tahere Ladaniam.