Débora. Entre um copo de cerveja e outro fica mais atrevida. Despista, diz que precisa entrar na piscina, “a cerveja está subindo”. Na minha frente, deixa o short deslizar pelas pernas, devagar, até largá-lo ao acaso no chão. Um gesto decorado com a malícia do improviso. Dá voltas na água, mergulha, descansa, o rosto apoiado na beirada da piscina. Os olhos parados em mim.
Sai da piscina, deixa o cabelo escorrer, o corpo dobrado para frente. Outro gesto medido: passa perto, o bastante para deixar sentir o cheiro do seu corpo molhado, e vai para a churrasqueira. Pega uma cerveja, encosta na amurada. Conversa com os amigos.
Crianças correm, adultos conversam, ninguém parece prestar atenção no meu olhar. Depois, bem mais tarde, cadeiras desarrumadas, uma toalha jogada de lado, o chinelo que deixaram de pegar, a carne esfriando na churrasqueira. A piscina vazia, refletindo as luzes do quintal. O calor da noite, Débora deitada em meu colo. Solitária naquela casa desejada.
– Todo mundo já foi. Preciso ir embora também. – disse pela terceira ou quarta vez.
– Você prometeu ficar até a meia-noite.
– Já é meia-noite. – Débora tirou o relógio de meu braço e por um instante pensei que ia jogá-lo na piscina. Mas ela apenas mexeu nos ponteiros.
– Então ainda temos uma hora. Hoje acaba o horário de verão. – Débora colocou novamente o relógio em meu pulso. Marcava onze horas.
Muitos e muitos anos depois, ao sentar na varanda para ver a noite, caminhar pelo calçadão da praia nas férias de julho, ler um livro desinteressante em tardes de calor, visitar sites, blogs, lavar o carro em manhãs de domingo, folhear revistas no horário de trabalho, zapear a TV procurando uma partida de futebol; muitos e muitos anos depois, ao me deparar sozinho com esses singelos momentos, algumas horas da vida voltam.