007 – Sem tempo para morrer

A despedida de Daniel Craig do agente secreto é emocionante. O final deixa no ar a certeza de que nossos heróis são assim, como nós. Essa foi, inclusive, a base da renovação da franquia 007 desde Casino Royale (2006): Bond sofre de diversos males físicos e sentimentais, um herói mais próximo, afeito aos conflitos internos e externos (lembrem-se das cenas de tortuna)  que acometem as pessoas comuns. 

No time to die começa com uma impactante sequência em uma casa de campo no inverno gélido, quando são apresentados Madeleine, ainda criança, e Safin, o vilão. Corta anos depois para cenas idílicas de Bond curtindo suas férias em Materna, sul da Itália,  junto com Madeleine, sua namorada. São cenas idílicas, sensuais, nas belas praias, nas vielas históricas, nos quartos de hotéis, assim como em todo filme de 007. Um atentado contra a vida de James Bond dá fim ao romance, instaurando a dúvida entre o casal. 

São dois prólogos recheados de cenas de romance, sexo, ação, perseguições de carros, mortes assustadoras. Cinco anos depois, Bond está aposentado, seu codinome 007 é usado agora por uma agente secreta. No entanto, Lyutsifer Safin, o vilão da primeira sequência, ressurge e se apodera de uma poderosa arma química que pode dar fim à humanidade. 

É a senha para a volta de Bond à ação, em uma narrativa repleta de reviravoltas, sequências mirabolantes de suspense e ação, um amor do passado que volta com surpresas, coadjuvantes que se destacam em momentos decisivos da trama, mulheres empoderadas em ações espetaculares quando resolvem sozinhas os problemas (diante de um Bond atônito); enfim, o velho e o novo 007 oferecem ao espectador tudo que ele tem direito quando se senta diante de um Bond, James Bond. O final apoteótico deixa uma dúvida que se dissipa rapidamente: James Bond will return!?.

007 – Sem tempo para morrer (No time to die, EUA, 2021), de Cary Joji Fukunaga. Com Daniel Craig (James Bond), Ana de Armas (Paloma), Rami Malek (Lyutsifer Safin), Léa Seydoux (Madeleine). Lashana Lynch (Nomi), Ralph Fiennes (M), Ben Whishaw (Q), Naomie Harris (Moneypenny).  

Operação skyfall

Em uma cena do filme Hitchcock (EUA, 2012), o produtor informa ao famoso diretor que estão querendo contratá-lo para dirigir Cassino Royale, baseado em livro de Ian Fleming. Hitchcock responde que já dirigiu um filme assim, se referindo a Intriga Internacional (1959).

Com Intriga internacional, Hitchcock praticamente lançou o estilo de filmes modernos de ação, influência direta para a série 007. Ainda no recente filme sobre o mestre do suspense, Hitchcock se depara com críticas considerando exagerado o final de Intriga internacional. Locações em várias cidades, um protagonista charmoso, perseguições mirabolantes e ações exageradas estão no filme de Hitchcock assim como em toda película de James Bond.

Operação skyfall (Skyfall, EUA, 2012), de Sam Mendes. segue a risca os clichês que fazem de James Bond um dos personagens mais cultuados do cinema. Mas há um aspecto que me incomoda desde Cassino Royale (2006): a seriedade carrancuda que Daniel Craig impôs ao personagem. A crítica saúda este estilo como a humanização de Bond. O agente agora está entregue à fragilidade diante de questões contemporâneas como terrorismo e tortura. Ele sofre física e psicologicamente como qualquer um de nós. Gosto mais do James Bond de Sean Connery e Roger Moore: irreverente, despretensioso, irresistivelmente charmoso, irretocável e não ligando a mínima para sofrimento ou a possibilidade da morte.

Parte desta crítica também elegeu Skyfall como o melhor filme de toda a série, exagero. O filme tem uma sequência final das mais belas, estética fascinante das terras geladas da Escócia combinada com ação envolvente. Mas de resto, é normal e despretensioso como qualquer outro Bond, com o agravante de uma solução comum de roteiro: o bandido que se deixa prender para entrar no QG do inimigo e depois empreender fuga espetacular.

A tecnologia cada vez mais avançada e as infinitas possibilidades de manipulação da imagem e dos efeitos fazem com que determinados filmes deste tempo se sobressaiam no quesito cenas espetaculares. A tendência é James Bond ficar mais e mais empolgante, mas isto não transforma os filmes recentes em melhores da série. O fato de um personagem mais humano muito menos, pois James Bond não é personagem comum.

Termino com a difícil lista dos meus filmes favoritos de 007, colocando, é claro, Intriga internacional de Hitchcock como hors concours.

007 contra a chantagem atômica (Thunderball, 1965) Terence Young

007 contra Goldfinger (Goldfinger, 1964) Guy Hamilton

007 contra o satânico Dr. No (Dr. No, 1962) Terence Young

007 o espião que me amava (The spy who loved me, 1977) Marvin Hamlisch

007 os diamantes são eternos (Diamonds are forever, 1971) Guy Hamilton

007 somente para seus olhos (For your eyes only, 1981) John Glenn

007 a serviço secreto de sua majestade (On her majesty’s  secret service, 1969) Peter Hunt