El Topo

David Lyn classifica El Topo como um de seus filmes favoritos. Nada a estranhar, pois o surrealismo e a escatologia são presenças marcantes nas obras de Lyn e Jodorowsky. 

A narrativa é dividida em duas partes. Na primeira, o pistoleiro El Topo, que cavalga sempre em companhia de um menino nu, busca os assassinos responsáveis por um massacre em um povoado. É o típico western que irrompeu os anos 70 com cenas violentas e sanguinárias. O encontro do pistoleiro com os assassinos, liderados por um coronel, é um banho de sangue. 

Na segunda parte, El Topo deixa o menino para trás e cavalga em companhia de Mara, amante do Coronel. Completamente apaixonado, atende a um pedido de Mara: matar os quatro mestres do deserto, guerreiros invencíveis. É a virada da narrativa para o misticismo, para o simbolismo religioso, para inserções metafóricas sobre o sentido da vida e da morte. O sangue continua a jorrar, agora pontuado por cenas caricatas e diálogos nonsenses. 

El Topo foi praticamente banido dos cinemas mexicanos e dividiu críticas mundo afora. Alejandro Jodorowsky sempre buscou recursos para filmar a continuação da saga do mítico pistoleiro, mas parece que, aos olhos do mundo, um El Topo é suficientemente repulsivo. 

El Topo (México, 1979), de Alejandro Jodorowsky. Com Alejandro Jodorowsky (El Topo), Mara Lorenzio (Mara), Brontis Jodorowsky (O menino), Pablo Leder (Monge 1), Giuliano Girini Sasseroli (Monje 2), Christian Merkel (Monje 3), Aldo Grumelli (Monje 4).

Fando e Lis

O primeiro filme de Jodorowsky já deixa a impressão que marca sua carreira: provocar o espectador em diversos sentidos, estéticos, sensoriais, narrativos… Lis é uma bela e sedutora jovem paraplégica que precisa da ajuda de Fando para se locomover (não em uma cadeira de rodas, mas em um carrinho). Fando tem um ar ingênuo, infantil, durante a trama vai ser provocado por vários personagens, inclusive eroticamente. 

A jornada da dupla se destina a encontrar a cidade mística de Tar, percorrendo uma região desértica, cujos caminhos intrincados são marcados por imensas rochas e pedregulhos. O filme é baseado na peça teatral de Fernando Arrabal, que assina o roteiro junto com Jodorowsky. Misticismo, surrealismo, erotismo, agressividade repulsiva (atenção para a cena em que Lis é espancada por Fando), escatologia, o espectador se depara com tudo que fez de Jodorowsky um dos mais rebeldes e provocativos cineastas da história. 

Fando e Lis (México, 1968), de Alejandro Jodorowsky. Com Sergio Kleiner (Fando), Diana Mariscal (Lis). 

A montanha sagrada

A narrativa é dividida em duas partes. Na primeira, um homem com semelhanças físicas ao Jesus Cristo consagrado pelo cinema, transita por uma paisagem agreste, tem o rosto coberto por moscas, é sequestrado por um grupo de crianças e amarrado em uma cruz. O crucificado é salvo por um anão sem pés e mãos. Os dois desenvolvem uma relação de amizade e agressão. 

Na segunda parte, um alquimista reúne um grupo de pessoas, cada um representando um planeta do sistema solar. O misticismo se evidencia em referências ao tarô, estranhos rituais, invocação a deuses e busca pela Montanha Sagrada. 

A experimentação surrealista escatológica (recheada de cenas que beiram a repulsa) de Alejandro Jodorowsky contou com apoio financeiro de John Lennon e Yoko Ono. As duas histórias se encontram, sem coerência narrativa, através de um intrincado jogo de imagens e frases soltas, bem ao estilo Jodorowsky de provocar estranheza em graus elevados. 

A montanha sagrada (The holy mountain, Mèxico, 1972), de Alejandro Jodorowsky. Com Alejandro Jodorowsky, Horacio Salinas, Zamira Saunders, Juan Ferrara.