
Para entender a força da linguagem cinematográfica em determinadas narrativas, basta se entregar ao longo plano sequência no parque, quando a filha do casal Tudor e Cristina desaparece. É uma espera angustiante para o espectador, acompanhar sem cortes uma bela manhã ensolarada no parque, onde crianças se divertem, pais relaxam com livros e conversas banais, sorvetes aliviam o calor das crianças e dos adultos. Angustiante, pois o espectador sabe o que vai acontecer com a pequena e doce Maria.
A partir do desaparecimento da criança, a narrativa se concentra na luta diária dos pais para encontrar a filha. Ao mesmo tempo, o casal tem que enfrentar a degradação do relacionamento, motivada principalmente pelo sentimento de culpa. Pororoca é um filme difícil de assistir, repleto de sequências que fazem o espectador entrar na tristeza e desespero do casal. A reviravolta na sequência final, claramente uma citação à Taxi Driver, de Martin Scorsese, é impactante, pode-se dizer aterradora ao expor os limites da insanidade.
Pororoca (Romênia, 2017), de Constantin Popescu. Com Bogdan Dumitrache (Tudor Iunesco), Iulia Lumânare (Cristina), Constantin Dogioiu (Pricop).